10 de agosto de 2021

Delta já deve ser a variante mais predominante em grandes cidades

Em um momento em que o Brasil começa a sair da segunda onda da pandemia de COVID, um novo desafio se impõe. Já se sabe que a variante Delta é capaz de infectar muito mais do que as anteriores, que infectados pela Delta tem uma quantidade bem maior de vírus pouco tempo após o momento da infecção, que Delta as vezes pode escapar da resposta imune induzida por infecções anteriores ou vacinação incompleta. Ainda não é certo que cause COVID mais grave, mas quanto mais casos, mais óbitos. Os poucos dados de vigilancia epidemiológica molecular sugerem que a esta altura Delta já deve ser a variante predominante em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, progredindo nestes centros populosos em rápida velocidade. Dados da Rede Corona-Ômica-RJ demonstram que no estado do Rio de Janeiro em 16/6 a prevalência era de 0,57%, quinze dias depois 16%, no final de Julho 26% e agora 45%! Uma ótima notícia é que após duas doses das vacinas Pfizer e AstraZeneca, ou uma dose da Janssen, a efetividade de proteção para hospitalização e morte por COVID pela Delta é alta. Outra é que a população brasileira em em sua gigantesca maioria quer ser vacinada. Nossos problemas então são o quanto demoramos para iniciar e a velocidade lenta inicial da campanha. A vacina é aplicada no músculo deltoide, e 80% dos brasileiros ainda não recebeu duas picadas, entre estes 5,5 milhões que faltaram a aplicação da segunda dose. Estes são mais sucetíveis a infecção, visto que a eficácia das vacinas para Delta, após uma única dose se demonstrou baixa, em torno de 30%.

Para poder dar ao menos uma dose de vacina para mais pessoas, o Brasil decidiu aumentar o intervalo de tempo entre as doses. De fato, estudos demonstram que a médio e longo prazo, aumentar o intervalo entre doses confere melhor proteção. Mas neste cobertor curto, no período entre doses há risco de infecção pela Delta. A decisão dos gestores de saúde sobre o intervalo adequado entre doses não é nada simples, e não há consenso, visto que múltiplas variáveis têm que ser levadas em conta; a comprovação científica da eficácia de proteção da primeira dose de cada vacina disponível, quando e quantas doses estarão disponíveis nos próximos meses, qual a velocidade de propagação da infecção nas diferentes regiões do país (no RJ e SP Delta já é prevalente, no PR e RS aparentemente nem tanto ainda), análise do momento em que a pandemia está e qual a prioridade atual (a ambição seria de eliminar o SARS-CoV-2 protegendo de infecção e da transmissão ou um cenário mais plausível seria aceitar coabitar com o vírus evitando prioritariamente doença grave?), a distribuição etária da população e a queda da imunidade daqueles que já a adquiriram.

Cabe lembrar que a efetividade das vacinas também tem íntima relação com a idade de quem as recebe, sendo menos efetivas nos mais velhos e imunodeficientes, justamente aqueles que correm mais riscos quando infectados pela COVID. Pelo menos 25 milhões de brasileiros com mais de 60 anos receberam a primeira dose, querem, mas ainda não receberam a segunda. Este grupo precisa de uma mudança imediata no intervalo entre doses. Enquanto não temos vacinas para todos, não podemos deixar estas pessoas para trás, as custas da vacinação dos mais jovens, que sabidamente correm menos riscos.

Alguns consensos; 1) Ninguém pode perder a segunda dose quando chamado para vacinar! 2) Temos que acelerar a vacinação plena com duas doses, em especial os mais velhos que ficaram para trás na vacinação! 3) O governo brasileiro precisa urgentemente aumentar o investimento e descentralizar os programas de vigilância genômica das variantes de SARS-CoV-2.

Então, o próximo desafio está lançado. Vacinação plena no Deltóide, para proteger da Delta!!

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